quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Das amarras.




Preferia nunca ter-te dado aquele primeiro beijo.

Já tínhamos ultrapassado algumas vezes a barreira da amizade e era ponto assente como fazia parte do passado.

Sei que se algum dia leres isso poderás não compreender ou talvez o interpretes como algo para te magoar.

Não.

Se não te tivesse beijado naquela madrugada de um sábado perdido de Agosto, teríamos usufruído de qualquer forma da companhia uma da outra.

Se não tivesse ultrapassado a barreira, não estaria agora a raspar−te da minha pele até fazer sangue. Não necessitaria de desfazer as amarras com pressa e ânsia de te tirar de mim.  Evitaria contar os dias que aguento sem chorar, como se apenas se tratasse de um desafio masoquista. Contar os dias que aguento sem desabar.


Disse−te um dia. Ou vários dias. Quando gosto, gosto mesmo. Não deixo de gostar só porque encontrei obstáculos pela frente ou porque as discussões existem. E apenas consigo dizer adeus se me apercebo que cheguei a um ponto em que tenho de fazer uma escolha. A escolha de me salvaguardar.

E agora sim. Depois destes meses em que te escolhi sempre a ti, escolho−me a mim e fecho−te a porta.

Não consigo compreender quem diz que o amor vale sempre a pena mesmo quando acaba mal. Não vale.

Os nossos bons momentos não compensam o que sinto agora. Não valem a dor. A desilusão. A angústia.

Nada do que foi vivido vale o esforço que é sair disto.

Como amigas teríamos sempre bons momentos. Não era preciso ultrapassar a barreira. 

Porque no fundo amizade foi o que sentiste. O resto foi ilusão. E tu sabes que assim é.

Posso estar errada mas não acredito em paixões de quinze dias ou amor com prazo de validade tão curto.

Argumentem o que quiserem. não há forma de me convencer.

A culpa é de ambas.

Não eras tu que me tinhas de proteger. A mim cabia esse papel.

E tive tantas oportunidades para o fazer mas escolhi−te a ti.

Não te cobro mais nada mas entende que neste momento a única escolha existente para mim é ir embora.

mesmo que seja tarde demais.

Não sirvo para encurtar sentimentos e entende que não sei oferecer−te amizade quando o que sinto é mais do que isso.

O que tens de mim, acontece porque o teu nome poderia ser amor. 

Por isso te digo, nunca devíamos ter ultrapassado a barreira.

Não compensou.




sábado, 30 de novembro de 2013

Conclusões de casa de banho - 1

Todas as mulheres por quem me apaixonei eram ou tinham sido em alguma situação infiéis.


Grande parte das vezes a infidelidade tinha sido cometida comigo.

Tenho duas opções: ou passo a ser uma senhora de Deus e vou viver para um convento ou preciso urgentemente de terapia de choque. 


Provavelmente, bastará deixar de estar com pessoas que estejam metidas em relações, que acabaram alguma há pouco tempo ou que demonstrem que são apreciadoras do love a lot/fuck a lot with different people at the same time. 


sábado, 23 de novembro de 2013

wet roads



Dizia-lhe: não sei quando será altura de ser feliz. provavelmente vai demorar.

Eu não sou de dramas. Eu sou feliz. Tenho bons amigos. Um trabalho. Dinheiro que paga as contas e ainda chega para em alguns meses mimar-me. Cuido de mim. Esta parte é algo recente. mas veio para ficar.

Para sim ser feliz é ter o pacote todo. é olhares para cada área da tua vida e perceberes que tens equilibrio, segurança e que estás preenchida. sem espaços em branco. 

É isso. Há coisa de um ano e pouco percebi que não queria espaços brancos. Percebi também que não queria aceitar qualquer coisa só para preencher rapidamente alguma lacuna. Com base nessa transparência de ideias para comigo, decidi ficar sozinha. Não me interessei por ninguém. cada vez é mais dificil sentir-me puxada pelas pessoas. mais dificil é acreditar nas suas intenções. dizia antes que precisava de algo extraordinário. do alto da minha descrença sabia que só alguém assim faria a diferença.

e fez. o retorno de alguém do passado. como que prenda de natal que chega mais cedo e nem queres acreditar que tiveste a sorte de a desembrulhar.

lembro-me de quando tudo começou comentar com uma das minhas grandes amigas: e se for desta? não posso ter medo. preciso de ir. tenho de acreditar. como não acreditar? é tudo tão perfeito e ela faz-me tão feliz. o medo não pode fazer parte disto.

Joguei-me. sempre que o passado vinha ao de cima como que em modo de consciência, atirava-o para longe. porque não acreditar? se o que vivia era tão palpável. tão intenso e verdadeiro.

não. existem mesmo sentimentos que são como comida fast food. quer-se rápida, saborosa e viciante. e depois a culpa.

apaixonei-me tanto que não tomei precauções. que não usei o travão aos poucos. para que o acidente não tivesse resultados tão nefastos.

alguém que se ilude a si própria, acaba por iludir o outro.

criam-se histórias de fantasias. sonhos preciosos. realidades distantes. 

passado pouco tempo, o tombo.

depois a persistência. da minha parte. tenho um péssimo defeito. acho quase sempre que as pessoas que se envolvem comigo e que depois decidem partir, vão despertar e perceber que afinal querem é estar comigo. e persisto e insisto nesta ideia. repito de todas as vezes: eu sou a puta da lotaria.

Não sou. 

se analisar todas as minhas relações ou casos, chego a uma conclusão. todas gostaram muito rapidamente. todas me chamaram de especial. todas quiseram mundos e fundos. cedo concluíram que não. que afinal não é bem isto. que afinal o que se sente não é suficiente para quererem lutar. ficar comigo. construir um história com principio, meio e eventualmente um fim longínquo. 

dito isto, começo a assumir que o problema é meu. (não, não sei se acredito mesmo nisto)

ser a última a gostar. ser aquela que não quer ir embora. não ajuda.

entender que estive um ano a ficar em paz comigo e voltar ao mesmo sitio de onde comecei. 

tenho dificuldades em confiar.

quando me pedem para confiar e depois me falham. 

queria ser de aço. queria ter a força de outros tempos.

queria reconhecer-me e não consigo.

mas estou aqui. não me perdi de mim. 

o tempo agora é de me recuperar. de esquecer. de me perdoar por não ter antecipado. era tão fácil adivinhar. 

voltar a ficar em paz. 

foca-te.